Era uma manhã cinzenta na Aurora Tech, uma empresa de médio porte focada em soluções digitais para o varejo. O CEO, pensativo, dentro de poucos minutos, receberia sua equipe de liderança para discutir um tema que vinha sendo adiado há meses: a criação de um departamento formal de inovação.
Embora pudesse parecer uma decisão simples, o ambiente estava carregado de tensões. A empresa, com 500 colaboradores, vinha crescendo de forma orgânica. As inovações surgiam espontaneamente, em equipes de marketing, vendas e desenvolvimento. Mas o mercado estava mais competitivo do que nunca, e os investidores cobravam uma direção estratégica clara.
Por outro lado, muitos na empresa temiam que um departamento formal criasse barreiras, afastando a inovação das operações cotidianas. O que seria mais eficaz: um hub dedicado ou uma cultura de inovação distribuída?

Modelos de Inovação: O que empresas globais ensinaram 🌐
A discussão não é nova. Grandes empresas ao redor do mundo enfrentaram a mesma questão – e chegaram a respostas diversas.
1️⃣ Amazon: A força da descentralização
Jeff Bezos acreditava que equipes pequenas e autônomas eram a chave para a inovação. Os famosos “two-pizza teams” simbolizam essa filosofia: grupos enxutos que podem trabalhar de forma independente e ágil, sem a necessidade de uma estrutura hierárquica pesada. Esse modelo permite que a inovação aconteça em qualquer área da empresa, reduzindo riscos de isolamento.
2️⃣ Microsoft: Colaboração e mindset de crescimento
Sob a liderança de Satya Nadella, a Microsoft reestruturou sua abordagem para inovação. A empresa adotou a mentalidade de crescimento (“growth mindset”) e incentivou a colaboração entre divisões. Cada equipe foi desafiada a se reinventar, unindo esforços para criar soluções integradas e modernas.
3️⃣ Apple: Equilíbrio entre estrutura e liberdade
A Apple é conhecida por seu poderoso departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, mas Tim Cook flexibilizou processos, abrindo espaço para que qualquer colaborador pudesse contribuir com melhorias e novas ideias. Esse equilíbrio entre um setor dedicado e uma cultura participativa gera tanto avanços disruptivos quanto incrementais.
4️⃣ Google: Misturando o melhor dos dois mundos
O Google combina iniciativas centralizadas, como o Google X, com programas descentralizados, como o “20% time”. Essa política permite que funcionários usem parte de sua carga horária para explorar ideias próprias, promovendo uma cultura onde todos são agentes de inovação.
Prós e Contras: Centralizar ou distribuir a inovação? ⚖️
Criar um departamento formal de inovação:
✅ Vantagens:
- Clareza de propósito e foco estratégico.
- Facilita parcerias externas, como startups e universidades.
- Reforça a marca perante investidores e o mercado.
❌ Desvantagens:
- Pode gerar isolamento das equipes operacionais.
- Risco de burocracia e lentidão em processos criativos.
Manter a inovação distribuída em toda a empresa:
✅ Vantagens:
- Maior agilidade e integração com o cotidiano.
- Aproveitamento do potencial criativo de todos os colaboradores.
- Estímulo ao senso de pertencimento e autonomia.
❌ Desvantagens:
- Pode faltar foco estratégico.
- Risco de ideias dispersas e dificuldade em priorizar ou escalar iniciativas.
Lições de empresas que apostaram nos dois modelos
Bosch e o sucesso de um hub dedicado
A Bosch criou um Innovation Lab focado em IoT (Internet das Coisas), explorando soluções inovadoras que reduziram custos na manufatura e abriram portas para novos mercados. Esse exemplo mostra como um departamento formal, bem estruturado, pode trazer ganhos significativos e tangíveis.
Nestlé e a excelência centralizada
Com o Nestlé Research Center, a gigante de alimentos conseguiu responder rapidamente às demandas por produtos mais saudáveis e naturais. A concentração de recursos em um único centro de excelência garantiu eficiência no desenvolvimento de novos produtos.
Ambev²
A Ambev é um exemplo de empresa brasileira que equilibra modelos centralizados e distribuídos para fomentar a inovação. A companhia criou um hub dedicado ao desenvolvimento de ideias disruptivas. Esse núcleo conecta startups e equipes internas, promovendo soluções tecnológicas para logística, sustentabilidade e produção.
Ao mesmo tempo, a Ambev reforça uma cultura de inovação descentralizada, capacitando seus colaboradores a proporem ideias e se envolverem em projetos estratégicos. Um exemplo é o programa de intrapreneurship, que incentiva os funcionários a liderarem projetos que possam gerar impacto em diferentes áreas da empresa.
Essa abordagem dupla trouxe resultados concretos: a Ambev implementou soluções como o uso de inteligência artificial para prever demanda e otimizar a produção, além de criar embalagens mais sustentáveis que reduziram custos e atraíram consumidores conscientes. Além de criar uma startup própria (Zé Delivery)
Google e os “20% Time”
Muitos projetos inovadores do Google, como o Gmail, nasceram da política de permitir que funcionários dediquem parte de seu tempo a iniciativas pessoais. Esse modelo híbrido une liberdade criativa e suporte institucional, provando que inovação distribuída pode ser altamente eficaz quando bem gerida.
Reflexões para a Aurora Tech: qual caminho seguir?
Ao reunir sua equipe, o CEO da Aurora Tech enfrentará uma decisão que vai além de uma escolha binária. Centralizar ou distribuir a inovação não é uma questão de certo ou errado, mas de alinhar a estratégia à cultura e aos objetivos da empresa.
Se a Aurora Tech optar por um departamento formal de inovação, precisará garantir que ele se conecte ao dia a dia das operações, evitando o risco de isolamento. Por outro lado, se decidir manter a inovação distribuída, será essencial criar mecanismos claros para priorizar e sustentar as melhores ideias.
Dicas para uma decisão estratégica:
- Avalie a maturidade organizacional: Empresas em estágios iniciais podem se beneficiar de inovação distribuída, enquanto negócios mais consolidados podem precisar de um hub dedicado.
- Considere o mercado: Em setores de rápida transformação, como tecnologia, flexibilidade é chave.
- Defina objetivos claros: A inovação deve estar alinhada com metas estratégicas, independentemente do modelo escolhido.
- Promova integração: Mesmo em um modelo centralizado, a inovação precisa dialogar com as demais áreas da empresa.
Conclusão: O futuro da inovação está em suas mãos
A escolha do modelo ideal depende de um equilíbrio entre foco e fluidez. Exemplo disso são empresas como a Amazon, Microsoft, Apple, Google e Bosch, que moldaram suas abordagens de acordo com suas culturas e objetivos estratégicos.


